Pular para o conteúdo

GET

A educação contra o feminicídio e o transfeminicídio

Elayne Messias Passos
Licenciada em História pela UFS. Doutora em Antropologia pela UFBA.
Assessora do Ministro da Educação.

Fonte: https://www.onumulheres.org.br/areas-tematicas/fim-da-violencia-contra-as-mulheres/arte/

A luta contra o feminicídio e o transfeminicídio é uma tarefa coletiva, urgente e contínua. Em tempos de intensas transformações sociais, é inadmissível que ainda convivamos com realidades tão cruéis como os recorrentes e, muitas vezes impunes, assassinatos de mulheres e pessoas trans pelo mundo afora. Não estamos falando apenas de números – embora os dados já sejam alarmantes por si só –, mas de vidas interrompidas, de histórias silenciadas, de famílias devastadas. Assim, a pergunta que devemos nos fazer é: o que estamos fazendo, como sociedade, para mudar essa realidade?

A resposta passa, obrigatoriamente, pela educação. Ela não é apenas uma ferramenta de transmissão de conhecimento, mas sim um poderoso instrumento de transformação social. Afinal de contas, ao educar para a diversidade, o respeito e a igualdade, estamos plantando as sementes de uma sociedade menos violenta e mais justa.Enquanto chefe da Assessoria de Participação Social e Diversidade do Ministério da Educação e presidente do Comitê das Mulheres do MEC, reforço o nosso compromisso institucional com a construção de políticas públicas que enfrentem de forma direta e eficaz essas formas de violência de gênero. Não basta tratar o problema com discursos ou ações pontuais: é fundamental um esforço permanente, articulado e enraizado nos pilares da justiça social e dos direitos humanos.

O combate ao feminicídio e ao transfeminicídio deve começar já na escola, na formação de professores e professoras, nos espaços de acolhimento e segurança dentro das instituições de ensino. É preciso romper com o silêncio que historicamente encobre essas violências e construir ambientes onde todas as pessoas – independentemente de sua identidade de gênero – sejam respeitadas, ouvidas e protegidas.

Além disso, é essencial e estratégico garantir a participação efetiva das mulheres e das pessoas trans nas decisões que impactam suas vidas. A participação social é um direito, e essa participação deve ser incentivada e efetivada em todos os níveis de governo e na sociedade civil. Sem representatividade, não há democracia plena. E sem escuta, não há transformação real.

Por isso, como diz a canção, “vamos precisar de todo mundo”, pois a luta contra essas formas brutais de violência não pode ser de poucos. É uma tarefa coletiva que exige engajamento de toda a sociedade – do poder público, das instituições de ensino, da comunidade acadêmica, das famílias e, principalmente, de cada cidadão e cidadã. Todos temos um papel a cumprir na construção de um país onde o respeito à vida e à dignidade humana seja valor inegociável.

Por isso, reitero: a educação precisa ser tratada como prioridade absoluta nas políticas de enfrentamento à violência de gênero. Não podemos mais permitir que jovens cresçam em ambientes permeados pelo preconceito, pela intolerância e pela omissão. O futuro se constrói com conhecimento, empatia e compromisso. A educação continua a ser uma ferramenta poderosa para a transformação social, e nós, como educadores, educadoras e cidadãos, temos o dever de utilizá-la com responsabilidade.

Os últimos tempos assistiram ao fortalecimento de setores reacionários, ao aumento de manifestações políticas marcadamente misóginas e homofóbicas. Disfarçadas pela tal “busca da masculinidade”, seitas machistas aparecem em vários cantos do mundo. Isso precisa ser combatido. E só a educação pode fazer frente à barbárie. Que não nos falte coragem para seguir nessa luta. E que nossas ações diárias estejam à altura da sociedade que queremos, um mundo em que nenhuma vida seja perdida tão somente pela falta de respeito à diferença.

Originalmente publicado em: https://infonet.com.br/blogs/getempo/a-educacao-contra-o-feminicidio-e-o-transfeminicidio/ em 08/05/2025


Postagens Relacionadas

O Choque Geracional e o Mercado de Trabalho na Atualidade

O Choque Geracional e o Mercado de Trabalho na Atualidade

Ailton Silva dos Santos Mestre em História (PROHIS/UFS)Integrante do Grupo de Estudos do Tempo Prese…

A educação contra o feminicídio e o transfeminicídio

A educação contra o feminicídio e o transfeminicídio

Elayne Messias Passos Licenciada em História pela UFS. Doutora em Antropologia pela UFBA.Assessora d…

80 anos depois

80 anos depois

Maria Luiza Pérola Dantas Barros Doutoranda em História Comparada (PPGHC/UFRJ)Integrante do Grupo de…