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“Sport contra o eixo”: o que observar nas transmissões de futebol?

Jairo Fernandes da Silva Júnior
Mestre em História pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (PGH/UFRPE)
Integrante do Laboratório de História do Tempo Presente (HTP/UPE)
E-mail: jairo.fernandes1994@gmail.com

Fonte: https://cassiozirpoli.com.br/video-canal-peleja-lanca-documentario-sobre-o-sport-contra-o-eixo/

Disponível no YouTube desde agosto de 2022, “Sport contra o eixo” é um documentário de 18 minutos idealizado pela marca esportiva Umbro e produzido pelo canal PELEJA (assistir em: https://www.youtube.com/watch?v=q6IDRKU5YmU). Com direção de Gustavo Piton, o material aborda o posicionamento midiático das emissoras televisivas do sudeste brasileiro com relação aos clubes do Nordeste. Em foco na tela, se destaca o Sport Club do Recife, equipe que protagonizou o título da Copa do Brasil em 2008, tornando-se o único campeão na região. O debate que permeia o material fílmico é a centralização da cadeia produtiva das transmissões no eixo Rio-São Paulo, sobretudo com as preferências para os clubes do local.

As transmissões televisivas para partidas do futebol na TV aberta no Brasil são definidas historicamente pela audiência e, consequentemente, quantidade de torcedores por localidade. A modernização dos meios de comunicação possibilitou estudos de alcance das torcidas pelo país, dando início às transmissões durante os anos 1960 e 1970, a começar pelos rádios e se popularizando com as televisões. Segundo o historiador Hilário Franco Júnior, foi durante os anos de 1980 e 1990 que as transmissões televisivas das partidas deram um passo importante para representações políticas, na tentativa de se adaptar ao modelo liberal vigente, visando a uma perspectiva de marketing esportivo.

Naquele momento, a abertura dos mercados e a formatação das desigualdades sociais diante das regiões no Brasil foram repercutidas nos aparelhos televisivos dos torcedores: ver uma partida de um time nordestino era um desafio. Os finais de semana eram protagonizados por equipes como Flamengo, Palmeiras e Vasco da Gama, agremiações esportivas que se projetaram no cenário internacional com títulos dos campeonatos sul-americanos e mundiais.

“Olha o que aconteceu quando a Globo duvidou desse clube” é o clickbait – linguagem da internet para indicar uma chamada – do documentário no YouTube. Com quase 1 milhão de seguidores na plataforma, o grupo tem como objetivo produzir conteúdos sobre futebol, com foco em documentários. Na sequência de imagens e entrevistas, estão partidas históricas, narrações e contribuições, como a do jornalista pernambucano Cássio Zirpoli, que permeiam debates sobre como o futebol nordestino é subestimado pela mídia do Sudeste, ao colocar a região como atrasada inúmeras vezes.

Pelo vídeo ser proveniente de uma parceria entre o canal PELEJA e a marca esportiva que patrocina o Sport no ano de 2022, críticas profundas foram feitas à narrativa construída pelo roteiro. Apesar da película mostrar-se necessária para instigar reflexões sobre desigualdades provocadas pela cadeia produtiva midiática, centralizar a figura do Sport Club do Recife com processos que já foram consolidados como fato intriga torcedores, jornalistas e especialistas no tema. Para os críticos, a partida da final da Copa do Brasil de 2008 contra o Corinthians e o título brasileiro de 1987, que sagraram a equipe pernambucana como campeã, bem como o “Cazá, Cazá” cantado no Estádio Adelmar da Costa Carvalho – Ilha do Retiro – pertencem ao Sport e não precisam permear discussão como se ainda estivessem sendo travadas disputas jurídicas.

Tais críticas são fundamentadas quando se reflete sobre o valor mercadológico do envolvimento da marca esportiva no documentário. Entretanto, é importante pensar na necessidade de levantar debates sobre as desigualdades com relação às transmissões, projetando um futuro promissor com o surgimento das novas mídias, a exemplo dos canais de streaming e o YouTube, os quais aumentam a possibilidade de acesso aos jogos pela maior parte dos torcedores. O crescimento das cadeias produtivas e do direito a assistir aos jogos dos clubes possibilitam visualizações, adeptos e maior representatividade para a região em campeonatos nacionais.

Este texto aponta a importância para compreender o futebol como fenômeno social contemporâneo, que indica sobreposições clubistas e midiáticas em espaços de poder econômico nas regiões. No Brasil, tal cenário é escancarado. Documentários como “Sport contra o eixo” sugerem críticas significativas às demandas sociais e econômicas do nosso tempo. Nesse sentido, de forma crítica e analítica, o esporte é colocado no campo social, político e histórico como capaz de transmitir o que é sentido antes de se compreender.

Originalmente publicado em: https://infonet.com.br/blogs/getempo/sport-contra-o-eixo-o-que-observar-nas-transmissoes-de-futebol/ em 22/09/22


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