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A escravização de pessoas é realmente coisa do passado?

Ailton Silva dos Santos
Mestre em História (PROHIS/UFS)
Integrante do Grupo de Estudos do Tempo Presente (GET/UFS/CNPq)
E-mail: ailton@getempo.org

Imagem: Adobe Stock. Fonte: https://observatorio3setor.org.br/noticias/1-em-cada-150-pessoas-no-mundo-esta-em-situacao-de-escravidao/

Embora muitos considerem e cheguem a afirmar publicamente que a escravidão seja coisa do passado, a triste realidade é que ela persiste e se adapta a contextos e realidades sociais diversas. Diferindo da escravidão histórica, na qual negros e negras eram forçados e forçadas a trabalhar sob as mais brutais e indignas condições, assumindo um claro papel de propriedade garantido pelo Estado, a escravidão moderna assume formas mais complexas e sutis, sendo encontrada em diferentes indústrias e regiões, explorando vulnerabilidades presentes.

É um tanto comum vermos noticiados na mídia casos de tráfico humano ou de pessoas que foram libertadas de casas onde realizavam trabalho doméstico sem remuneração. O tráfico sexual, alimentado pela indústria pornográfica, é um grande exemplo no qual mulheres são induzidas e mantidas em situações degradantes. Contudo, segundo a campanha internacional 50 for Freedom, apenas 1/5 das vítimas de trabalhos forçados são escravos (as) sexuais. Ainda segundo a mesma organização, existem mais pessoas hoje em situação de escravidão do que em qualquer outro momento da história. Sendo, em sua maioria, mulheres e crianças.

A forma mais difundida continua sendo o trabalho braçal forçado. Pessoas são obrigadas à labuta compulsória, sem remuneração adequada e sob condições deploráveis. As vítimas, frequentemente recrutadas por meio de falsas promessas de emprego ou mudança de vida, são aprisionadas, sequestradas ou até vendidas. O tráfico humano é o comércio de pessoas e envolve recrutamento, transporte e coerção de indivíduos por meio de ameaças e violência, privando-os de seu direito de escolha e de liberdade. Condição também comum nos casamentos forçados, nas quais mulheres jovens, ou ainda crianças, são obrigadas a desposar desconhecidos que, em sua maioria, são homens mais velhos. Segundo o portal de notícias G1, a Ásia e o Pacífico têm os maiores índices na incidência desse tipo de crime.

Além disso, podemos observar a cadeia de suprimentos em que muitos produtos que são consumidos diariamente, como roupas, eletrônicos e alimentos, são produzidos por mão de obra escravizada. Trabalhadores são explorados para atender à demanda crescente por bens de consumo, sem nem sequer ter a oportunidade de consumir os produtos que constroem.

A escravização na modernidade é alimentada e mantida por uma combinação de fatores. Dentre eles, se incluem a pobreza extrema, a desigualdade social, a corrupção e a incidência de guerras. As pessoas mais vulneráveis são as que vivem em condições de extrema precariedade, com acesso limitado a serviços básicos e educação. A desigualdade de gênero desempenha um papel muito significativo nessa anomalia social, uma vez que as mulheres enfrentam uma exploração ainda maior devido ao seu status social considerado inferior em algumas sociedades.

Sendo um termo utilizado para descrever as formas contemporâneas de exploração e controle do indivíduo, a escravidão moderna vai além de uma mancha, pois também se caracteriza como um eco das práticas de tempos apodrecidos. Embora tenhamos progresso em muitas áreas, a exploração de seres humanos sofreu um rebranding (recondicionamento de marca) e continua a ser executado de formas até mais eficientes. É nosso dever, enquanto sociedade, erradicar essa prática através da busca pela conscientização que vem através da educação, do fortalecimento de leis para a garantia dos direitos humanos e de uma fiscalização mais rigorosa das condições de trabalho.

Para saber mais:

A Escravidão Moderna: Mitos e Fatos. 50forfreedom. Disponível em: https://50forfreedom.org/pt/a-escravidao-moderna-mitos-e-fatos/#:~:text=Tr%C3%A1fico%20de%20seres%20humanos%2C%20servid%C3%A3o,for%C3%A7ado%20s%C3%A3o%20apenas%20alguns%20exemplos. Acesso em: 15 nov. 2023.

Número de pessoas forçadas a se casar no mundo sobe 42,8% em 5 anos, diz ONU. G1, 2022. Disponível em: https://g1.globo.com/mundo/noticia/2022/09/13/numero-de-pessoas-forcadas-a-se-casar-no-mundo-sobe-428percent-em-5-anos-diz-onu.ghtml. Acesso em: 15 nov. 2023.

Originalmente publicado em: https://infonet.com.br/blogs/getempo/a-escravizacao-de-pessoas-e-realmente-coisa-do-passado/ em 21/12/2023


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