Pular para o conteúdo

GET

Call of Duty: a história através de videojogos

Ailton Silva dos Santos
Mestrando em História (PROHIS/UFS)
Integrante do Grupo de Estudos do Tempo Presente (GET/UFS/CNPq)
E-mail: ailton@getempo.org

Fonte da imagem: https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Call_of_Duty:_WWII

A 9° geração dos videojogos, iniciada com o lançamento do Playstation 5 e do Xbox Series X, trouxe ao início da terceira década do século XXI uma imersão gráfica e possibilidades de Gameplay que possui muito potencial. Aficionados por vídeo games lutaram durante décadas para que se tornasse relevante tanto na sociedade quanto como fonte de estudo e, focalizando o desenvolvimento do cinema à categoria de documento, podemos articular os atributos metodológicos que podem fundamentar uma abordagem de tal mídia enquanto fonte histórica. Contudo, o olhar sobre os jogos eletrônicos não sofreu grandes alterações ao longo do tempo, como o foi com a 7° arte, e tal potencial segue sendo trivialmente explorado; sobretudo, por conta dos altos preços dos consoles e jogos, que impossibilitam uma democratização dos produtos, e do próprio mercado que se desloca cada vez mais para as micro transações financeiras. 

Inicialmente, é preciso considerar o grande sucesso de franquias que trabalham aspectos históricos, sem buscar maior rigidez científica em sua reprodução, retratando épocas e/ou mitos que já são explorados em outras mídias e conhecidos pela sociedade. Contudo, também existem produções que, desenvolvidas com o auxílio de historiadores contratados, buscam mais aproximação com a realidade para possibilitar uma maior imersão no gameplay (jogabilidade; experiência com as características do jogo). Como um bom exemplo, podemos apontar dois jogos da franquia Call of Duty, em que, uma reprodução da história é desenvolvida através do drama narrativo e em ambientes que, emulando missões em vários campos de batalha, levam o jogador a praticar serviços de invasão, sabotagem, bombardeio e/ou desarticular intrigas a partir da decodificação de mensagens criptografadas pelo inimigo e/ou emissão de mensagens falsas para enganar os nazistas. Edições como Call of Duty II (2005), aclamado pela crítica como o jogo que pôs a franquia na linha de frente do gênero FPS (Frames per Second), e Call of Duty WWII (2017), em que a empresa abandonou o caminho que vinha seguindo ao longo dos anos, apostando em temáticas futuristas, com sua estória acontecendo entre os anos de 1944 – 1945. Tais jogos colocam o player dentro de acontecimentos que, quando não são reproduções de fatos estudados, simulam confrontos em lugares que podem ser localizados geograficamente. Destaca-se que, diferente de um filme em que o telespectador é estático e está sujeito à visão do diretor e dos produtores, aqui o espectador se torna ator e as decisões são tomados por ele em “tempo real”; mesmo que as possibilidades de escolha tenham sido inseridas em uma narrativa previamente desenvolvida por um diretor de arte. Nessas duas produções, concentram-se elementos como os papéis dos soldados de diversas nacionalidades, a maneira como os combates ocorreram, sobretudo ao se reproduzir imagens históricas do conflito e/ou reproduções criadas a partir de filmagens da época em que foram modeladas por computação gráfica.  

Entretanto, é preciso ter em mente que ambos os jogos são produzidos por estúdios estadunidenses e que sua análise contribui para compreender antes de tudo as interpretações correntes nos EUA sobre a guerra. Portanto, artefatos culturais possuem certo impacto, e o consumidor é “informado” e “formado” por eles. Dessa maneira, se torna importante visualizar a contribuição de liberais nacionalistas para a franquia e considerar a influência de “guerras culturais” em sua produção. Em suma, vídeo jogos podem ser considerados documentos históricos, e didaticamente explorados, contanto que não se descuide de suas especificidades enquanto mídia. Ora, também não é preciso salientar que ter contato com a fonte é importante. Então, busque jogá-los e divertir-se com os mais variados temas que podem ser explorados por sua representação, como Call of Duty e Assassin’s Creed Unity, que se passa durante a Revolução Francesa, ou ainda buscar compreender se Donkey Kong Country realmente apresenta indícios de ser uma crítica ao Imperialismo norte-americano. Em suma, se deve estabelecer um método que se adeque, como pegar de empréstimo o Cinema-História, e adaptar, levando sempre em consideração elementos que motivam tais produções; não somente o capital, como também o lugar, a época e as influências socioculturais.

Para saber mais:

FORNACIARI, Marco A. A Guerra em Jogo: A Segunda Guerra Mundial em Call of Duty, 2003 – 2008. Niterói – RJ: UFF, 2016.

Assassin’s Creed Unity será usado na reconstrução da Catedral de Notre-Dame.

https://canaltech.com.br/games/assassins-creed-unity-sera-usado-na-reconstrucao-da-catedral-de-notre-dame-137335/ Acessado em 25 de fev. 2023.

Originalmente publicado em: https://infonet.com.br/blogs/getempo/call-of-duty-a-historia-atraves-de-videojogos/ em 06/07/2023


Postagens Relacionadas