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Luiz Fernando Ribeiro Soutelo e a Sergipanidade

Prof. Dr. Francisco Diemerson
Doutor em História Comparada
Professor Adjunto da Universidade de Pernambuco (Campus Petrolina)
Pesquisador do Grupo de Estudos do Tempo Presente (GET/UFS) e do Observatório dos Sertões (UPE/CNPq)

Foto: César de Oliveira. Disponível em: https://a8se.com/noticias/sergipe/cerimonialista-e-membro-da-academia-sergipana-de-letras-luiz-fernando-ribeiro-morre-aos-72-anos-de-idade/

Apesar da magna data de 8 de julho, legalmente o dia de comemoração da Emancipação de Sergipe, o poder público e a própria sociedade efetivaram o dia 24 de outubro como o dia de celebração deste conceito tão comentado que é a Sergipanidade. Talvez essa escolha encerre o debate da predominância das datas e possa estabelecer um foco na procura por um caminho útil e firme na defesa, no cuidado e no desenvolvimento daquilo que possivelmente possa nos definir como sergipanos.

Em junho de 2011, o pesquisador Luiz Antonio Barreto, no artigo “Sergipanidade, um conceito em construção” explica que “(…) é o conjunto de traços típicos, a manifestação que distingue a identidade dos sergipanos, tornando-o diferente dos demais brasileiros, embora preservando as raízes da história comum. A sergipanidade inspira condutas e renova compromissos, na representação simbólica da relação dos sergipanos com a terra, e especialmente com a cultura, e tudo o que ela representa como mostruário da experiência e da sensibilidade”.

Somando-se a Luiz Antonio Barreto na construção desse conceito, temos a intensa atuação de Luiz Fernando Ribeiro Soutelo (1949-2022) como um dos principais e ativos intelectuais envolvidos na preservação e na defesa destes traços, raízes e cultura que ressaltam o sentido da sergipanidade, seja através de sua atuação longeva ao longo de sete mandatos como membro do Conselho Estadual de Cultura, seja como pesquisador associado ao Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe e na Academia Sergipana de Letras, além de sua passagem como Diretor do Instituto do Patrimônio Cultural de Sergipe.

Já na década de 1970, é de sua autoria a indicação para tombamento do Palácio Olimpio Campos, do Palácio Fausto Cardoso, da antiga Escola Normal, do Palácio Serigy e do Palácio Inácio Barbosa, através da indicação n.° 017/1975, provocando a ampliação da discussão sobre a necessidade urgente de uma legislação sobre o patrimônio histórico e artístico de Sergipe que resultará na Lei n.° 2069, de 28 de dezembro de 1976 e será um marco na proteção de diversos bens culturais na capital sergipana.

Em 1977, após acompanhando os arquitetos do Curso de Conservação e Restauração de Monumentos Históricos, promovidos pelo IPHAN, em visitas nas cidades de Santo Amaro das Brotas, Nossa Senhora do Socorro, Laranjeiras e São Cristóvão, Luiz Soutelo irá promover nova indicação ao Conselho Estadual de Cultura alertando “a situação precária que se encontram muitos prédios que, por suas características artísticas ou por seu significado histórico, foram tombados por ato da autoridade Federal” o que evidenciava a necessidade de criação de um organismo estadual com competência para supervisão da manutenção destes espaços tombados, ressaltando sua preocupação e reconhecimento do patrimônio cultural disperso no interior sergipano.

Durante os anos 1990 e 2000, exercendo a presidência do Conselho Estadual de Cultura, Luiz Soutelo buscava reunir o máximo de informações das prefeituras sergipanas sobre festejos, celebrações e datas históricas locais para que composição de um rico calendário cultural elaborado pelo colegiado, um importante repositório que agrega as mais diversas formas de manifestações culturais presentes no Estado.

Na Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe e também da Academia Sergipana de Letras se destacam os ricos artigos produzidos por Luiz Fernando Ribeiro Soutelo sobre o desenvolvimento das cidades de Santa Luzia do Itanhy, Arauá e Estância, fornecendo importantes subsídios sobre a história local mas também suscitando discussões sobre a manutenção e preservação dos registros documentais das cidades sergipanas.

A intensa produção intelectual de Luiz Fernando Ribeirou Soutelo compõe um inestimável acervo que fortalece e ressalta o conceito de sergipanidade justamente por sua permanente preocupação na criação de políticas públicas de proteção aos bens materiais e imateriais e na necessária atuação dos organismos estatais na efetivação de ações que convidassem a sociedade sergipana a conhecer sua própria história.

Originalmente publicado em: https://infonet.com.br/blogs/getempo/luiz-fernando-ribeiro-soutelo-e-a-sergipanidade/ em 24/10/2024


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