Prof.ª Dr.ª Andreza Maynard
Universidade Federal de Sergipe
Grupo de Estudos do Tempo Presente (GET/UFS/CNPq)
No último domingo, dia 14 de janeiro de 2024, milhares de manifestantes tomaram as ruas de Potsdam e chamaram a atenção para o avanço de uma pauta da ultradireita. Os protestos ocorreram após ser noticiado que grupos radicais e políticos da extrema direita alemã se reuniram para discutir a expulsão em massa de estrangeiros. O país tem uma relação delicada com a democracia e vive assombrado por um passado no qual o nazismo elegeu a xenofobia como uma prática justa e necessária.
Nas primeiras décadas do século XX, o medo do comunismo fortaleceu os grupos fascistas europeus. Na Alemanha, o fascismo era representado pelo partido nazista, que chegou ao poder em 1933. E apesar de alguns acreditarem que toda a população alemã teria apoiado o nazismo, pesquisadores têm apresentado documentos que evidenciam o contrário. O nazismo de Adolf Hitler enfrentou oposição em vários setores da sociedade, inclusive nas forças armadas alemãs e nas igrejas (católica e protestante).
Historiadores como Ian Kershaw e Richard Evans afirmam que dentro do próprio Partido Nazista havia lideranças que teciam duras críticas a Hitler. E mais, que membros do próprio Partido Nazista tramaram a morte do Führer alemão. Foram muitos os planos para assassinar Hitler, tendo sido o mais famoso deles aquele chamado de Operação Valquíria, tema abordado pelo filme lançado em 2008 e estrelado por Tom Cruise.
Mas nenhuma conspiração de golpe contra os nazistas, nem tampouco as várias tentativas de assassinato de Hitler, obtiveram sucesso. Foi preciso que houvesse uma soma de esforços para vencer o nazismo na Alemanha. Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, o país realiza um intenso trabalho para conscientizar a sua população sobre o quão danoso foi a experiência para eles e todo o mundo.
O Partido Nazista deixou de existir na Alemanha, mas a ideologia nazista sobrevive em partidos de extrema direita, como o Alternativa para a Alemanha (AfD), que encontrou na pauta xenófoba uma forma de angariar apoiadores.
Recentemente, o austríaco Martin Sellner, liderança importante da extrema direita, apresentou um plano de “remigração” de estrangeiros que vivem na Alemanha. O país já endureceu as leis de imigração e deportação de estrangeiros ilegais, e agora precisa lidar com grupos que conjeturam a possibilidade de expulsar milhares de imigrantes, inclusive os que foram naturalizados.
Até por razões históricas, o combate ao fascismo surgiu primeiro na Itália e Alemanha, mas, atualmente, o combate ao fascismo está longe de ser uma questão apenas alemã, ou europeia. O fascismo assumiu novas formas e está também no mundo virtual, alcançando um público cada vez maior. Eles continuam estimulando o ódio, o preconceito e o extermínio de determinados grupos humanos. O monitoramento dos fascistas na internet tem sido um meio eficaz para combatê-los.
E se a morte dos líderes fascistas que governaram durante a Segunda Guerra Mundial não pôs fim ao problema, tampouco isso se coloca como uma alternativa viável nos dias de hoje. Mais do que incentivar a violência contra os fascistas, o governo alemão tem feito um trabalho de identificação dos grupos e aplicação das leis.
O crescimento do número de pessoas com visões ultradireitistas, bem como o aumento da quantidade de políticos de extrema direita no parlamento alemão, tem sido interpretado como uma séria ameaça à democracia alemã e aos direitos humanos.
Diante da disseminação de ódio e intolerância contra imigrantes, é difícil não lembrar dos tempos em que um outro austríaco infame, aquele nascido em 1889 e que cometeu suicídio em 1945, haver conseguido realizar uma limpeza étnica na Alemanha. É preciso manter-se vigilante, pois como disse Bertoldt Brecht: “A cadela do fascismo está sempre no cio”.
Originalmente publicado em: https://infonet.com.br/blogs/getempo/o-antifascismo-na-alemanha/ em 18/01/2024