Francisco Diemerson
Doutor em História Comparada (UFRJ)
Presidente da Academia de Letras de Aracaju
Membro do Conselho Estadual de Cultura de Sergipe.
Membro do Grupo de Estudos do Tempo Presente (GET/UFS).
O ano de 2023 inicia com uma efeméride especial: o centenário de nascimento da historiadora Maria Thetis Nunes, sergipana de Itabaiana, nascida no dia 06 de janeiro de 1923 e cujo legado é fundamental para o entendimento da historiografia sergipana e com uma marcante contribuição em diversas áreas da educação e da cultura em Sergipe.
Maria Thetis Nunes iniciou sua formação escolar em sua cidade natal e depois, já em Aracaju, ingressou no Atheneu Sergipense, onde teve sua paixão pela História a partir das aulas com os professores Felte Bezerra e Arthur Fortes. Depois disso, é aprovada para a primeira turma de História e Geografia da Faculdade de Filosofia da Universidade Federal da Bahia. Em Salvador, participará ativamente de vários movimentos políticos, muitas vezes acompanhada pelo seu grande amigo e também estudante José Silvério Leite Fontes.
Um pouco antes do término da graduação, Thetis Nunes se submete ao concurso para professor catedrático do tradicional Atheneu Sergipense (1945), apresentando a tese Os Árabes: sua influência na civilização ocidental, tema que evidencia sua visão ampliada enquanto pesquisadora. Aprovada, foi a primeira mulher a se tornar parte da congregação de docentes formada por destacados nomes da sociedade sergipana e muitos de seus antigos professores.
No governo Luiz Garcia (1951-1955), Maria Thetis Nunes assume o cargo de diretora geral do Colégio Estadual de Sergipe, antiga denominação do Atheneu Sergipense. É a responsável pela mudança para o prédio na praça Graccho Cardoso (e a plantação das árvores que até hoje o rodeiam) e também, em nome do governador, inaugura o auditório do Atheneu, hoje Teatro, em 1954.
Mantendo sua trajetória de pioneira, é professora fundadora da Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe, mantida pela Arquidiocese de Aracaju, em 1951, dando início à carreira universitária a qual se dedicará pelas próximas quatro décadas.
Indicada pelo Governo de Sergipe, integra a turma inaugural do Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB), organismo criado pelo presidente Juscelino Kubistchek, vinculado ao Ministério da Educação e Cultura, com objetivo de qualificar pesquisadores de alto nível no Brasil. Dessa experiência, Maria Thetis apresentará importantes estudos sobre a educação brasileira, destacando-se a pesquisa a respeito da obra de Manoel Bomfim e sua influência na formação do pensamento sobre nacionalidade brasileira.
Já em 1961, parte para Rosário, na Argentina, onde se torna diretora do Centro de Estudos Brasileiros e professora na Universidade Nacional do Litoral, retornando a Sergipe em 1968, onde se torna professora titular do Departamento de História da Universidade Federal de Sergipe, ocupando várias funções até chegar à Vice-Reitoria, na condição de Decana e aposentando-se depois de quase 50 anos de serviço público.
No campo cultural, Maria Thetis Nunes teve atuação singular enquanto presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe por 30 anos, mantendo a Casa de Sergipe aberta aos pesquisadores, garantindo a continuidade dos trabalhos e a melhoria de sua estrutura, sem deixar de atrair novas gerações de intelectuais que se somaram em sua administração.
Da mesma forma, foi membro do Conselho Estadual de Educação, entre 1970 e 1981, e membro do Conselho Estadual de Cultura, entre 1982/1994 e 1998/2004, tendo ocupado a presidência do Colegiado e também a presidência da Câmara de Patrimônio Histórico. Também ocupou a cadeira n.º 3 na Academia Sergipana de Letras, onde foi diretora da biblioteca e presença constante nas reuniões das segundas feiras e nos eventos.
Sua produção é referencial para os estudos históricos sobre Sergipe. Obras como Sergipe no Processo da Independência do Brasil (1972), História da Educação em Sergipe (1984), Sergipe Colonial I (1985), Sergipe Colonial II (1996) e Sergipe Provincial I (2000) são fundamentais para o entendimento do desenvolvimento de Sergipe, institucional e político, e a estruturação de sua sociedade ao longo dos períodos estudados. Também são importantes os apurados trabalhos voltados para o campo da educação: Sílvio Romero e Manoel Bomfim: Pioneiros de uma Ideologia Nacional (1976), História da Educação em Sergipe (1984), Manuel Luís Azevedo d’Áraújo (1984), dentre outros, que evidenciam tanto a notável erudição de Thetis como seu cuidado metodológico.
O centenário de Maria Thetis Nunes é um importante momento para que as instituições educacionais e culturais sergipanas revisitem sua obra e seu legado, como pleno reconhecimento de sua contribuição para o desenvolvimento do estado, sua dedicação para guarda de nosso patrimônio e da conservação de nossa memória e seu amor, sempre proclamado e repetido, por Sergipe.
Originalmente publicado em: https://infonet.com.br/blogs/getempo/maria-thetis-nunes-centenario-de-nascimento/ em 05/01/2023
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