Prof.ª Dr.ª Andreza Maynard
Universidade Federal de Sergipe
Grupo de Estudos do Tempo Presente (GET/UFS/CNPq)
A comemoração do dia internacional da mulher deste ano vem acompanhada pela hashtag #ChooseToChallenge. O tema propõe um comprometimento com a construção da igualdade de gênero. Além disso, expressa o que se tem chamado de a 4ª onda do feminismo, iniciada por volta de 2012, associando o movimento ao uso das redes sociais.
Desde que o ambiente virtual passou a ser utilizado para expor ofensas, agressões ou crimes contra mulheres, mais homens poderosos têm sido colocados em xeque. A divulgação dos comentários sexistas ditos por Yoshiro Mori, então presidente do Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos de Tóquio, o levou à renúncia, no mês passado.
Em 2017, uma campanha de mídia social incentivava vítimas de assédio sexual a usarem a hashtag #MeToo. Naquele ano, o influente produtor de filmes Harvey Weinstein foi acusado de haver cometido crimes de abuso sexual; tudo negado por ele. Mas a pressão continuou. Durante a cerimônia da entrega do Globo de Ouro, em 7 de janeiro de 2018, várias mulheres usaram vestidos pretos, enquanto Oprah Winfrey fez um discurso inflamado acusando figurões de Hollywood de cometer excessos. Weinstein foi preso em maio de 2018.
Além de promover campanhas para denunciar os casos de violência e difundir o movimento feminista, as redes sociais recolocaram o termo patriarcado em voga. No entanto, feministas de gerações anteriores advertem que sem uma discussão teórica, que possibilite empregar o patriarcado como uma ferramenta analítica, ele será apenas um slogan.
A expressão vem do grego antigo e literalmente significa “a regra do pai”. O termo foi retirado do universo da teoria e trazido para a vida real pela primeira vez em 1938, quando Virgínia Wolf publicou Três Guineus. Para Wolf, a expressão descrevia a dinâmica de uma família como a dela, na qual o pai detinha o poder econômico e a autoridade. Sua geração lutava por educação, direito ao voto e ao trabalho fora de casa.
No século XXI, a pauta está diferente, assim como os contornos do patriarcado. Ele é ágil, flexível e vem se manifestando na prática em situações como a eleição de Jair Bolsonaro no Brasil, nas condições degradantes de trabalhadoras na Ásia, no infanticídio de bebês do sexo feminino na Índia, no sequestro de garotas na Nigéria, no estupro, na violência doméstica, que aumentou durante a pandemia do novo coronavírus, além da persistente diferença salarial, a falta de liberdade sexual, dentre outros problemas.
É preciso delimitar o que o patriarcado é hoje, percebendo como as instituições, culturas e mesmo religiões reforçam e disseminam as estruturas de opressão às mulheres num mundo em que a maioria dos países se diz liberal e democrático.
Aceitar o desafio de reduzir as injustiças nas relações de gênero em 2021 passa pelo ativismo digital, mas também pelo entendimento de que a substituição de Yoshiro Mori e a prisão de Harvey Weinstein são conquistas importantes; contudo, eles são indivíduos que expressam parte de um problema amplo com raízes estruturais no mundo. Ainda existem muitos patriarcas no poder… Por enquanto.
Sobre a Imagem: Fonte: https://www.internationalwomensday.com/
Originalmente publicado em: https://infonet.com.br/blogs/8-de-marco-de-2021-um-mundo-desafiado/ em 08/03/2021