Marcelle Silva Salles de Andrade
Graduanda em História pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) – Instituto Multidisciplinar.
Orientadora: Prof.ª Msc. Raquel Anne Assis
Em 1949, o romancista George Orwell já escrevia sobre um mundo distópico em que uma sociedade controlada por um governo totalitário é monitorada durante as 24 horas que compõem um dia. Através do romance “1984”, o escritor britânico expressa nas entrelinhas as incertezas de se viver em um cenário de pós Segunda Guerra Mundial (1939-1945), em que as dúvidas a respeito do rumo que o mundo tomaria eram frequentes.
“1984” é um ótima representação da ação do totalitarismo em uma sociedade, utilizando de diversos elementos que servem para consolidar esse sistema político. O autor apresenta desde a imagem de um líder forte e rígido, “O Grande Irmão”, até agências que atuam contra a veracidade dos fatos, o “Ministério da Verdade”. George Orwell, acima de tudo, explora o valor da liberdade e a fragilidade que ela possui.
O fascismo surge em nosso horizonte de forma silenciosa e incerta. É comum que, de tempos em tempos, o discurso do preconceito, da xenofobia e da supremacia acabe seduzindo, em sua maioria, jovens apoiadores do conservadorismo da extrema-direita. Geralmente, os grupos minoritários como negros, mulheres e a comunidade LGBT são declarados como inimigos desses governos, já que existe um certo saudosismo em relação ao passado no qual a “moral e os bons costumes” prevaleciam por cima de discursos meramente machistas, homofóbicos e racistas. Então seria o fascismo um pesadelo já extinto que assombrou apenas a Europa e parte do mundo no século XX? Não é tão simples assim. Na América Latina, a instabilidade política, junto a crises econômicas, fez com que grupos denominados neofascistas surgissem com seus discursos nacionalistas e disseminadores de ódio.
É fato que um regime fascista não se consolida sozinho. Há a necessidade de um amplo apoio popular para que ele se estabilize. O fascismo possui discursos “esperançosos” e traz sentimentos de resgate e valorização à “Pátria, Deus e Família”. Segundo esses discursos, essa seria a fórmula para se chegar a uma “ordem e progresso”. Mas a que custo se constrói esse cenário? A que ordem nossos governantes estão se referindo? Qual o preço desse progresso?
Na sociedade distópica de “1984”, o medo definia a ordem. A paz era composta pelo silêncio. O progresso, construído sobre mentiras contadas pelo próprio regime. A liberdade, como tantas vezes na história, calada pela ânsia por poder. Qualquer semelhança com a realidade não é mera coincidência. É intencional. A arte é uma representação da nossa sociedade, é fruto da nossa realidade.
Originalmente publicado em: https://infonet.com.br/blogs/1984-o-grande-irmao-esta-de-olho-em-voce/ em 10/12/2020