Prof.ª Dr.ª Andreza S. C. Maynard
Universidade Federal de Sergipe
Grupo de Estudos do Tempo Presente (GET/UFS/CNPq)

Há algumas décadas era preciso comprar ingresso, enfrentar filas e se acomodar numa sala escura para ter acesso às novidades cinematográficas. Muita coisa mudou e ninguém mais é obrigado a sair de casa para ver seus títulos preferidos; basta ter uma boa conexão com a internet.
O próprio Martin Scorsese declarou que não vai mais ao cinema, nem mesmo para assistir aos seus filmes. Em entrevista recente concedida ao crítico Peter Travers, o renomado diretor afirmou que a plateia “não para de falar no celular durante o filme, sai da cadeira para pedir lanches e refrigerante e mantém o nível de barulho alto o suficiente para esgotar os atores na tela” e ele não consegue mais suportar isso.
A crítica de Scorsese evidencia uma questão de longa data na história do cinema: as reclamações sobre o comportamento do público, algo que se observa desde o início do século 20. Porém, é preciso reconhecer que a falta de etiqueta nos cinemas aumentou depois da popularização do streaming e do confinamento imposto pela pandemia de Covid-19.
Outro problema antigo é que nem todas as cidades têm cinemas. O setor exibidor brasileiro comemorou um recorde em 2024, quando 3.509 salas estiveram em funcionamento no país. No entanto, a distribuição permanece desigual. Enquanto o estado de São Paulo dispõe de 1.100 salas, o Acre tem apenas 7. Além disso, há uma concentração dos cinemas nas capitais e dentro dos shopping centers.Independentemente da localização, ir ao cinema tem exigido planejamento. É preciso levar em conta o alto custo dos bilhetes e lanches, os horários fixos das sessões e a necessidade de deslocamento. Ainda assim, o brasileiro vai ao cinema em média 1 vez a cada 2 ou 3 meses, ou seja, entre 4 e 6 vezes por ano.
Conforme uma pesquisa realizada em 2022, apenas 34%, ou seja, 1/3 da população brasileira continuou frequentando as salas de exibição depois da pandemia. Os dados também informaram que o público mais expressivo dos cinemas estava na faixa etária entre 16 e 24 anos, com destaque para os jovens com idade de 20 a 24 anos. Por sua vez os idosos (mais de 60 anos) eram os que menos frequentavam.
Hoje a maior prevalência do público ainda recai sobre a geração Z, nascida num ambiente digital e que não larga do celular por nada. Além de conversar e falar alto durante as sessões, eles também fazem fotos e verificam as redes sociais com frequência, o que aborrece os demais espectadores.
Não obstante o panorama soar desfavorável, a magia do cinema permanece viva. Quem vai ao cinema espera mais do que apenas assistir a um filme: busca-se uma experiência. E ela continua a ser única. A vivência imersiva que a sala escura proporciona, a qualidade técnica com resoluções em 4K, 8K e projeções holográficas, a conexão social, os lançamentos exclusivos e eventos temáticos, são atrativos que o streaming não é capaz de oferecer.
Em 2025 os cinemas continuam proporcionando uma experiência incomparável aos amantes da sétima arte, porém a decisão de frequentar uma sala de exibição depende das prioridades de cada um. Entre altos e baixos, a prática de ir ao cinema persiste, sobretudo, entre os mais jovens, mas precisa se reinventar.
E você, quando foi a última vez que assistiu a um filme na tela grande?
Para saber mais:
<https://www.theguardian.com/film/2025/jun/06/martin-scorsese-no-longer-watches-films-in-cinemas-due-to-audience-bad-behaviour> Aceso em 25/06/2025
<https://www.exibidor.com.br/noticias/mercado/12610-apenas-34-dos-brasileiros-vao-ao-cinema-ao-menos-uma-vez-por-mes-atualmente-diz-estudo> Aceso em 25/06/2025
Originalmente publicado em: https://infonet.com.br/blogs/getempo/ir-ao-cinema-ainda-vale-a-pena/ em 03/07/2025
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