Ailton Silva dos Santos
Mestre em História (PROHIS/UFS)
Integrante do Grupo de Estudos do Tempo Presente (GET/UFS/CNPq)

Em Lagarto, interior de Sergipe, a veia cultural é pulsante e plural em todas as suas vertentes. Músicos, pintores, artífices, escritores, poetas e atores. Entre essa tempestade, que por vezes arrefece e outras tantas retumba, o teatro é um terreno que floresce artistas, entusiastas e grupos de tempos e tempos. Entrementes, o teatro nunca deixou de existir na cidade; como o Cobras & Lagartos, um marco da cultura, que viveu hiatos e formou artistas que semearam outras conquistas, e grupos como o Louvor Sertanejo composto por eternos brincantes que vivenciam a arte há mais de duas décadas ininterruptas. De fato, a cidade vivenciou momentos de maior e menor expressividade e anos como 2003, que foi um dos períodos de Condensação Cultural, que veleja pela memória da cultura local até os dias de hoje.
É comum que grupos desenvolvam oficinas de formação e, desses projetos, venham e emergir atores que componham outros grupos. Podemos sitar dois casos notórios que foram a fundação do 7Panos e do Tecendo a Manhã, oriundos de oficinas ofertados pelos grupos, respectivamente, supracitados. Contudo, e se um grupo vier a ser composto pela integração de pessoas que criam arte e se apresentado por conta da vontade de construir. E essas mesmas pessoas, de tempos em tempos, venham a ser questionados sobre quem são? E se um conjunto de indivíduos que recitavam poemas e apresentavam esquetes livremente, comporem recitais performáticos de textos adaptados? Ora, não estamos falando do Cobras & Lagartos, que teve uma iniciativa um tanto parecida, em alguns aspectos, mas não de um todo similar. Estamos falando do Grupo Livre.Uma das mais recentes companhias fundadas na cidade o Grupo Livre nasceu da conformação de indivíduos ao entorno de Benicio Júnior, membro fundador e atual diretor. O grupo iniciou sua trajetória logo após o isolamento social em decorrência da pandemia de Covid19 (2020 – 2022) e, após apresentações pontuais, uma série de questionamentos das pessoas que prestigiaram levaram os integrantes a decidirem nomear-se como uma entidade e, segundo Benicio Júnio, fundar “um grupo que permita que eles sejam livres e possam fazer o que eles quiserem. Não que os outros grupos não sejam livres. Algo que dê um empurrão para a pessoa seguir e ai veio o nome Grupo Livre”.
Também resultado de oficinais e momentos, o grupo apresentou cenas curtas no dia 03 de maio de 2025 na Fila Harmônica Lira Popular, em sua cidade de origem, para uma casa cheia de espectadores. Onde concluíram o período de curso, apresentando o desfecho do que desenvolveram na oficina, e foram certificados ao final. Uma noite memorável para os intérpretes que apresentaram o resultado de sua dedicação e encantadora para os que a prestigiaram. Tal instante, sentido curto por ter sido bom, fez memorar apresentações que foram debutes na cidade e o Festival de Cenas Curtas, FACETAS, organizado sob a direção de Ivilmar Gonçalves (1983 – 2012) em 2010 cujo principal jornal eletrônico da cidade na época noticiou que “o teatro sergipano estava em festa. Motivo: a premiação do FACETAS – I Festival de Cenas Curtas do Teatro Sergipano. O público lotou o teatro Lourival Baptista para assistir à cerimônia e torcer pelas cenas favoritas.” (Santos, 2023, p. 22).
Não que se tenham alguma ligação direta, ou influencia propriamente dita, mas foram acontecimentos culturais que contam com uma interrelação de pessoas e intenções; e, a isso, podemos adicionar o fato de o diretor do Grupo Livre ter integrado a companhia de teatro 7Panos (2015 – 2022?) e, embora intentasse se afastar um pouco da vivência de grupos, acabou reunindo pessoas para realizar um recital performático onde, tal intenção, cresceu e culminou com a fundação de um novo grupo a partir do convite à mais outras pessoas, inclusive ex integrantes do 7Panos e do Louvor Sertanejo ou participantes de antigas oficinas do Cobras & Lagartos.
Portanto, a renovação e manutenção que se faz constante, se dá de maneira orgânica a partir de pessoas com manifestações artísticas diversas que convergem em uma intenção que encanta e enriquece a cidade. Sejam por estudantes ávidos em criar e representar, antigos intérpretes que desejam retornar ou escritores e professoras que intencionam sempre desenvolver e manifestar cultura, a cidade de Lagarto floresce a partir de sua gente que é arte de múltiplas formas.
Para saber mais:
SANTOS, Ailton Silva dos. História e memória social do teatro lagartense: trajetória da Cia Cobras & Lagartos. 2023. 242 f. Dissertação (Mestrado em História) – Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão, 2023.
https://www.instagram.com/ogrupolivre?igsh=dDcxdGd5NTBjazY1
Originalmente publicado em: https://infonet.com.br/blogs/getempo/o-teatro-lagartense-em-cena-livre/ em 26/06/2025
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