Diego Leonardo Santana Silva
Doutorando em História Comparada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, com bolsa Capes
Integrante do Grupo de Estudos do Tempo Presente (GET/UFS/CNPq)
E-mail: diego@getempo.org
No seu clássico livro A Era dos Extremos, o historiador britânico Eric Hobsbawm (1917-2012) chamou atenção para a necessidade de olharmos para o passado e mantermos viva a memória. A medida que nossa experiência com o tempo ocorre de maneira contínua, estaríamos sujeitos a perdermos referências mais facilmente. A memória vai enfraquecendo e a tarefa do historiador em relembrar o que aconteceu se torna cada vez mais importante.
Lembrar para não repetir é um dos lemas para aqueles que consideram a História como a mestra da vida. Tudo o que ocorreu serviria como base para as ações no nosso tempo e, em sua essência, olhar para o passado faria com que não repetíssemos os nossos erros. Pesquisadores como o também britânico Richard J. Evans (1947-), um dos estudiosos sobre a Alemanha Nazista mais lidos no mundo, defendem que olhar para o Terceiro Reich hoje é tão importante quanto era anos atrás. Quanto mais o tempo passa, os projetos de reestruturação do nazismo contam com o enfraquecimento da memória e, consequentemente, vão empreendendo iniciativas de relativização dos horrores do nazismo.
Em uma época na qual a apologia ao nazismo aumenta e projetos políticos autoritários baseados na negação do outro vão ganhando adeptos em todo o mundo, o olhar para a experiência alemã do século XX nos serve de alerta. Serve de alerta porque o projeto de poder nazista foi sendo consolidado aos poucos, com concessões graduais feitas em prol de alguém que pudesse colocar ordem em meio ao terror. Dentro de uma tradição autoritária, uma guerra cultural, intelectual e ideológica foi travada contra aqueles que não concordavam com o autoritarismo e, nisso, um regime de exceção contou com apoiadores.
Estabelecido o regime nazista, as ambições de Adolf Hitler (1889-1945) levaram o mundo a uma guerra que deixou dezenas de milhões de mortos que se estenderam para além do campo de batalha. Foi um conflito no qual milhões de civis morreram e tantas outras pessoas foram vítimas de um projeto de extermínio em campos de concentração criados pelos nazistas. A ascensão do nazismo levou o mundo ao colapso e a derrota dos alemães na Segunda Guerra Mundial (1939-1945), além da revelação de crimes contra a humanidade, aparentava ter levado o fascismo ao total descrédito.
Décadas depois, o fascismo se reorganiza e discursos de sua natureza foram ganhando espaço para embasar um processo de descrédito e desilusão de algumas pessoas com a realidade em que vivem. No mundo cada vez mais globalizado, um conjunto de indesejados sociais seriam os responsáveis pela crise econômica, pela violência, pela degeneração da cultura e qualquer outro dos “males da globalização”. Nesse sentido, um discurso que coloque o outro como culpado pelas mazelas sociais ganha força e se torna perigoso.
Cabe ao historiador lembrar. É preciso lembrar do Terceiro Reich e trabalhar a alteridade e a tolerância para que projetos de sociedade desse tipo jamais triunfem.
Para saber mais:
EVANS, Richard J. Terceiro Reich: Na história e na memória. Editora Planeta do Brasil, 2018.
HOBSBAWM, Eric. Era dos extremos: o breve século XX. Editora Companhia das Letras, 1995.
Originalmente publicado em: https://infonet.com.br/blogs/getempo/por-que-lembrar-do-terceiro-reich/ em 16/02/2023