Diego Leonardo Santana Silva
Doutorando em História Comparada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGHC/UFRJ), com Bolsa Capes
Integrante do Grupo de Estudos do Tempo Presente (GET/UFS/CNPq)
Passado o primeiro turno das eleições presidenciais de 2022, o resultado do pleito apontou para um caminho previsível. O ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL) se enfrentarão no segundo turno dia 30/10, quando escolheremos o destino do país nos próximos anos.
Para muitos, embora o resultado do primeiro turno fosse previsível, as circunstâncias foram surpreendentes. Lula teve por volta de 57 milhões de votos enquanto Bolsonaro contou com mais de 51 milhões de eleitores cristalizando a polarização que há anos vem formando o protagonismo do cenário político nacional. Todavia, se por um lado o bolsonarismo ficou em segundo lugar no pleito presidencial, por outro, ele obteve sucesso nas eleições legislativas elegendo uma significativa bancada de senadores e deputados federais que podem dar a Bolsonaro, caso reeleito, mais poder com o congresso nacional ampliando seu projeto de governo e de nação.
O bolsonarismo enquanto projeto político-ideológico defende pautas morais conservadoras e um projeto econômico neoliberal. Redução de gastos públicos com as universidades vêm se tornando rotina no atual governo, dificultando o funcionamento dessas instituições. Em meio a esse projeto, há a intenção da cobrança de mensalidades nas universidades públicas por meio de iniciativas como a PEC 206/2019, tema que sofria certa resistência no congresso da legislatura de 2019-2023. Um novo congresso foi eleito e com ele a proposta pode ganhar força.
Inicialmente, o argumento é o de que a classe média, a mesma que sofre com impostos e que foi sufocada pela inflação nos últimos anos, também deveria arcar com os custos das mensalidades para ocupar um espaço público, assim como faz durante o período escolar. Com isso, as universidades teriam mais recursos, como se, em meio os inúmeros gastos do governo federal, verbas para formar os universitários brasileiros não devessem ser prioridade ou nem mesmo existir. A partir do momento em que tal precedente se torna viável, os valores e as categorias que arcariam com isso poderão se ampliar.
Enquanto trava um embate cultural, o bolsonarismo avança na consolidação de seu projeto de governança baseado no autoritarismo enquanto linguagem e no neoliberalismo enquanto projeto econômico. Uma nova vitória bolsonarista pode marcar o fim de um dos mais importantes instrumentos de emancipação popular que é a universidade pública e gratuita a todos.
É preciso pensar o país que queremos para o agora e para o amanhã e as eleições são o melhor momento para consolidar projetos políticos e posições quanto a questões centrais da vida brasileira. Por isso, é necessário olhar para todos os aspectos que envolvem uma escolha política.
Mesmo com eventuais problemas e dificuldades, a universidade pública é um recurso que as pessoas menos beneficiadas financeiramente encontram para poder ter uma formação profissional e melhorar de vida, além de ser um direito de todas as brasileiras e todos os brasileiros que obtêm a aprovação para o curso escolhido, independentemente da classe social.
Originalmente publicado em : https://infonet.com.br/blogs/getempo/o-bolsonarismo-e-a-universidade-publica/ em 13/12/2022
Para saber mais:
https://educacao.uol.com.br/noticias/2022/05/24/kennedy-alencar-uol-news.htm
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