Marcelo Santos
Mestre em Ensino de História/UFS
Integrante do Grupo de Estudos do Tempo Presente (GET/UFS)
E-mail: marcelosanjes@hotmail.com.br
Em uma biblioteca, identificamos e selecionamos um conjunto de textos, livros e artigos. Passamos a folheá-los, lê-los, resumi-los e, finalmente, separamos as informações que nos interessa. Nosso critério de seleção é simples. Selecionamos as que mais contribuam para responder às nossas inquietações iniciais, aquilo que nos impulsionou a principiar uma jornada. São com essas informações, tratadas, que produziremos um conhecimento que poderá ser consumido de forma individual ou coletiva.
Assim, se pretendo conhecer o que é um vírus, por exemplo, posso ir até a uma biblioteca, pública ou particular, e fazer um levantamento dos livros e artigos de revistas, produzidos por estudiosos, que me forneçam informações sobre o assunto. Entretanto, as informações tomadas isoladamente não me proporcionam uma análise profunda. Torna-se necessário relacioná-las e analisá-las em conjunto. O resultado dessa operação de síntese depende dos meus conhecimentos teóricos e metodológicos adquiridos nos bancos escolares ou na sabedoria oriunda da cultura na qual estou inserido, inclusive na digital.
Sabe-se que, apesar de uma história secular, as bibliotecas públicas não existem nem estão disponíveis em todos os lugares para serem acessadas. A primeira no Brasil data do início do século XIX. Atualmente, nem todas têm a estrutura física, quantidade e qualidade de acervos e forma de gerenciamento adequada ao público interessado em obter informações.
É possível percebermos que, na operação citada anteriormente, fazemos uso de técnicas, conscientemente ou não, fruto de um acúmulo de conhecimentos que são recombinados e atualizados ao longo do tempo, em diferentes espaços, por indivíduos e instituições e através de diversos processos. Tais técnicas, além de nos ajudar a selecionar e identificar as fontes de informações que nos interessam, nos ajudam no processo de comparação, análise e síntese; ou seja, elas nos permitem sairmos do “cru”, a informação, e chegarmos ao “cozido”, o conhecimento.
A criação da internet, em meados do século XX, e o posterior desenvolvimento das redes sociais, no século XXI, nos possibilitou, com certa facilidade, o acesso a uma infinidade de informações sobre inúmeros assuntos, inclusive sobre vírus, através, por exemplo, de alguns cliques nos nossos celulares. Textos, sons e imagens compõem o mundo que cabe em nossas mãos, menos pesado do que qualquer biblioteca física. A rapidez e a quantidade de informações que podemos acessar e compartilhar é fantástica. Mas, o que fazermos? Compartilhamos o “cru”, informações, ou o “cozido”, o conhecimento?
Um dos nossos desafios do mundo contemporâneo é desenvolvermos competências e habilidades de identificação, seleção, comparação e análise de informações, sejam elas provenientes de bibliotecas físicas ou virtuais, que tornem possível a elaboração de conhecimentos que contribuam para evitarmos a matança de “corpos e mentes” em nossas sociedades, quer seja por notícias falsas sobre vírus ou pela produção de saberes inconsistentes.
Originalmente publicado em: https://infonet.com.br/blogs/o-que-compartilhamos/ em 15/10/2020